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Edital de duplicação da Índio Tibiriçá atrasa e mortes na rodovia crescem 140%


Capotamento na rodovia Índio Tibiriçá. (Foto: Banco de Imagens)

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), durante agenda em São Bernardo em agosto, anunciou que o edital para as obras de duplicação da rodovia SP 031, a Índio Tibiriçá, seria lançado em outubro, mas o procedimento vai atrasar. Nem o projeto está pronto e depois ainda será necessário o licenciamento ambiental para, só então, o edital ser publicado, o que ainda não se tem previsão. Enquanto as obras não acontecem a rodovia segue fazendo jus à sua fama de “Estrada da Morte”; o número de mortos subiu 140% em um ano.

De janeiro de 2015 até agosto deste ano, foram 135 mortes registradas nesta rodovia que tem pouco mais de 36 quilômetros entre São Bernardo e Suzano, passando por Santo André e Ribeirão Pires. Média de uma morte por mês. De acordo com o Detran (Departamento Estadual de Trânsito) foram registrados nestes nove anos e oito meses, 959 acidentes, que não são leves pois que fizeram 1.261 feridos, com 135 deles vindo a óbito, ou seja, de cada dez vítimas que se feriram de acidentes na SP 031 neste período, uma morreu.

As fatalidades na rodovia estão aumentando. Segundo o Detran, de janeiro a agosto do ano passado aconteceram mais acidentes e com mais vítimas do que neste ano, porém mais pessoas morreram em 2025. Em oito meses de 2024 foram 93 acidentes com 119 vítimas e cinco mortos. Neste ano foram 59 acidentes, 79 vítimas e 12 mortos, alta de 140% dos óbitos.

O DER (Departamento de Estradas de Rodagem) que administra a rodovia, informou que o projeto executivo das obras de duplicação e melhorias da Índio Tibiriçá deve ser concluído em outubro. “Em seguida ocorrerão os trâmites para obtenção do licenciamento ambiental e será publicado o edital de licitação da obra. O empreendimento prevê a duplicação do trecho entre os km 33,100 e 69,300 da SP 031, interligando os municípios de São Bernardo, Santo André, Ribeirão Pires e Suzano. O valor estimado da obra é de R$ 460 milhões”.

Staschower lamenta que os investimentos na rodovia demoraram tanto. (Foto: Reprodução)

Mortal

Para o urbanista e gestor do curso de engenharia e arquitetura da FSA (Fundação Santo André), Enrique Staschower, só a duplicação sem medidas ostensivas de fiscalização e monitoramento da velocidade, não irá produzir um efeito sobre o número de mortes na rodovia. Ele aponta fatores de risco que fazem da Índio Tibiriçá uma das rodovias mais mortais do Estado.

Segundo o professor, o traçado da SP 031 é antigo, concebido para outra realidade de fluxo de veículos e para veículos com uma concepção diferente da atual. Somado a isso, a rodovia passa por trechos urbanos, onde ela é usada pelo trânsito local, como uma avenida, outro fator gerador de acidentes. “A rodovia foi concebida os anos 50 para carros diferentes dos de hoje, quando a velocidade média era menor, e ela tem características de avenida em alguns trechos, onde passa entre moradias e comércios, mas recebe veículos pesados e com isso temos o caminhoneiro dividindo espaço com o ciclista que carrega uma sacolinha da feira. Na minha visão a duplicação vai resolver o problema de tráfego, mas não esse aspecto de avenida que ela tem em alguns trechos”, analisa.

Colisão na rodovia e veículo foi parar fora da pista. (Foto: Reprodução)

Staschower aponta que a região por onde a rodovia passa tem sido permeada por grandes centros logísticos, onde carretas pesadas chegam para descarregar e saem outros caminhões menores para entregas, além do movimento de turistas. “Esses imensos galpões são grandes vazios, empregam pouca gente porque tudo é mecanizado, mas aumentam muito o movimento de veículos pesados. Isso contrasta com a realidade da rodovia nos finais de semana, quando há mais movimento de carros de passeio porque famílias vão para essa região para o lazer e alguns motoristas gostam de almoçar tomando uma cervejinha, outro fator que promove acidentes”.

O urbanista chama atenção também para o período de obras, que deve ser longo e máquinas na pista mais os desvios temporários podem aumentar ainda mais os acidentes. A falta de fiscalização para fazer com que os motoristas obedeçam o limite de velocidade na via é mais um fator de insegurança segundo Staschower. “A solução é colocar radares, o governo não tem gasto porque é um serviço terceirizado, e o dinheiro das multas tem que ser investido no trânsito”, diz o especialista.

O DER diz que não há radares operando na rodovia atualmente. Os que existem estão em fase experimental. O órgão que administra a Índio Tibiriçá informa ainda que há equipes de apoio e socorro pela via. “Quanto à segurança viária, o DER destaca que foram implantados controladores de velocidade ao longo do trecho, que estão em fase de teste e homologação. A previsão é que a fiscalização comece até o final de outubro, sujeita a ajustes técnicos. Além disso, equipes de monitoramento atuam 24 horas por dia, com veículos de apoio, guinchos leves e pesados, e mais de 200 brigadistas preparados para atendimento em situações emergenciais. O DER-SP segue investindo em fiscalização, monitoramento e campanhas de conscientização para a segurança viária”, diz, órgão, em nota.

Por fim, o professor e urbanista da FSA, lamenta que há anos as mortes nesta rodovia crescem por falta de investimento. Ele teme que as obras de duplicação não tragam melhorias pois chegam tarde. “É factível que o número de acidentes aumente, diante da defasagem de tempo e aumento da frota. O investimento vai trazer ainda uma valorização dos imóveis, maior interesse na região o que leva a mais trânsito ainda”, completa.






Fonte: Reporter Diário

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